Um dia vou acordar e não me vou idignar com a estupidez alheia nem entrar em discussões com essas mesmas pessoas.
Um dia não vou achar estranho que se prezem mais os animais do que as pessoas, mesmo aquelas que nem são de se cheirar. Um dia vou ver por essa internet fora tantas petições a zelar por criancinhas e velhos como vejo para adoptar animais. Um dia acordo e não há gente mais preocupada com um cão que atacou uma criança do que com a criança que está no hospital por ter sido atacada por um cão. Um dia vou estar rodeada de gente que se preocupa mais com as desigualdades sociais, num país de futebol, onde as "grandes causas" se resumem a touradas e bichos abandonados, do que com não comer carne ou fazer prospecção de petróleo no Alentejo. Um dia vou acordar num país civilizado onde não morram crianças com sarampo porque uns acéfalos decidiram que isto da ciência e da medicina não é mais do que uma cabala para nos extorquir dinheiro, pejar-nos de doenças e fazer testes bioquímicos em humanos.
Um dia vou acordar e ver que não, que as coisas são como são, que as pessoas estão estupidificadas por teorias da conspiração proliferadas pelas redes sociais, que as pessoas humanizam animais em detrimento de outros humanos e que o Passos Coelho continua a ter quem vote nele. Restam-me os dias em que acordo e me levanto com a sensação que estou a fazer a minha parte e isso, parecendo que não, já não é nada mau.