Há uns posts atrás prometi falar sobre a minha experiência musical em Angola! Tendo em conta que o meu blog é um new baby born, isso foi qualquer coisa como "ontem"... mas o prometido é devido e portanto, cá está!
Eu já tinha comentado o quanto Angola me tinha transformado numa pessoa diferente, aliás, tão diferente que até passei a ouvir música angolana de outra maneira (não, ainda não oiço em casa, no banho nem no carro...)! E espantem-se, até cheguei a dançar (ou pelo menos uma espécie de...) kizombas em público!
Não posso dizer que tenham sido actuações brilhantes (longe de uma dupla ao estilo Fred Astaire & Ginger Rogers), mas alturas houve que até nem foram assim tão más! Nada que não se aprenda com o tempo!
Agora a música...
É preciso começar por dizer que o povo angolano é um povo...hum, apaixonado? Bom, se calhar não será essa a palavra, mas é seguramente um povo que dá muita importância aos assuntos do coração e nos seus mais diversos meandros!
Nós por cá também temos grandes cantores românticos que usam o amor como mote para as suas músicas. Ah, a grande Ágata e as suas partilhas do divórcio, a Mónica Sintra e a outra, o Mestre Tony Carreira e o Guru Marco Paulo, que até tinha mais do que um amor - eram DOIS amores!!! Lá romantismo também não nos falta.
No entanto, deve ser por causa do clima, as nossas são mais viradas para a desgraça e muito menos..."quentes" já para não dizer que estamos longe de sermos tão bons produtores de videoclips.
Há um aspecto que vão seguramente reparar que está presente em todas as músicas. Esta explicação que vou dar será certamente desnecessária uma vez que vos considero a todos pessoas esclarecidas, mas cá vai, just in case - as moças (todas elas direitas) são muitíssimo sensíveis e vulneráveis, diria até frágeis, estando estas sempre a evitar e a resistir às investidas dos moços (estes já menos direitos e abusadores) que a todo o custo tentam conquistar os seus puros e delicados corações.
Além de tudo, estas músicas têm uma componente quase didáctica que poderá até prevenir as moças mais incautas de cair nas tentativas amorosas a que estão sujeitas.
Para vos elucidar um pouco sobre a realidade musical de que estou a falar, vou optar por vos dar alguns exemplos...nada como ouvirem!
A quantidade de estilos musicais é grande pelo que vou apenas abordar 2, os quais considero mais importantes ou pelo menos com maior expressão.
KUDURO: Surgiu em Angola durante os anos 80, inicialmente como um estilo de dança que posteriormente evolui para género musical). É influênciado por outros géneros tais como a Kizomba, Semba, Sungura, Ragga e Reggaeton e caracteriza-se por letras simples e com humor (e que humor!!!), escritas em Português (LOL) podendo ter algumas expressões em Kimbundo.
Nota: Pelo que pude observar in loco, uma maneira de dançar kuduro sem fazer (muito) má figura consiste apenas em mexer os ombros para cima e para baixo, mexendo pouco ou mesmo nada as pernas. Para completar o show, basta juntar um olhar meio de esguelha para uma moça que se encontre a dançar nas redondezas.
A música que escolhi como representante, porta estandarte deste género é do Cabo Snoop, o grande hit "WINDEK". Acreditem que esta música foi muitas vezes o auge da pista de dança! Era de levar a multidão ao rubro! (sim, sim, dancei muitas vezes com este som)
Toda a música roda em torno de uma palavra cujo significado parece ser algo...dúbio e das tentativas sucessivas (não se pode dizer que o moço não estava empenhado) feitas pelo Cabo Snoop para explicar qual o significado da tal palavra. Ele bem tentou, deu vários exemplos, todos em diferentes contextos para se fazer entender, mas não sei se conseguiu! É que WINDEK é mesmo uma palavra complexa. Eu própria vou ter de ouvir mais vezes a música para ver se entendo...mas se há algo claro em toda a letra é que todas as situações, sejam elas de que natureza forem, são um bom pretexto para...WINDEK (e não, não pensem que WINDEK terá algum significado ou sentido mais pecaminoso pois não é nada disso! Se, nem que seja por um instante pensaram isso, é porque não percebem mesmo nada disto, nem atingiram a profundidade da mensagem!)
Acho que cada pessoa terá a sua opinião do que WINDEK poderá significar após ouvir a música.
É de salientar a qualidade do videoclip, dos elaborados passos de dança do Cabo Snoop e da sua indumentaria. Em suma, que maravilha!
Outra música representativa deste género musical e também outro grande hit das pistas de dança é Damony e Dama Ludmila - Recursos Humanos (Moça Direita).
Damony e Dama Ludmila
Confesso que esta música foi um choque (sim, se é que isso é possível). É que à primeira vista (ou ouvido), nem acreditamos muito bem no que estamos efectivamente a ouvir. Depois, ao percebermos a letra e tendo a certeza que é mesmo aquilo passamos ao estado de gargalhada!
Confesso que esta música foi um choque (sim, se é que isso é possível). É que à primeira vista (ou ouvido), nem acreditamos muito bem no que estamos efectivamente a ouvir. Depois, ao percebermos a letra e tendo a certeza que é mesmo aquilo passamos ao estado de gargalhada!
Durante umas quantas vezes foi exactamente isso que me aconteceu, até que numa noite, num belíssimo e bem localizado estabelecimento de diversão nocturna em Luanda, me chamaram à atenção para o verdadeiro sentido da música, para a profundidade da sua mensagem.
Ai tudo mudou de figura! A gargalhada foi-se pois o assunto era sério e delicado e não podia concordar mais com a explicação que me deram (aqui fica um muito obrigada ;)).
A partir desse momento ganhei um grande respeito e consideração, até mesmo dó pela moça obviamente direita! Na verdade ela era apenas uma vítima inocente, neste caso não da sociedade em geral, mas da sociedade masculina! Ela, moça ingénua, de respeito, DIREITA, viu-se numa situação em que estava a ser abusada sem nada, coitada e indefesa, poder fazer! É caso para dizer que não há direito!!!
Naturalmente que a minha estadia lá me permitia continuar aqui a dar exemplos de boas músicas, mas não sendo eu uma moça maçadora, sugiro que façam uma pequena pesquisa sobre o assunto! ;)
O outro estilo musical sobre o qual vou tecer alguns comentários é, como não podia deixar de ser, a Kizomba!
Até agora Kizomba para mim era apenas aquilo que se ouvia a sair aos altos berros de dentro de alguns carros, curiosamente todos eles Saxo Cup, Fiat Punto GT ou Peugeot 106 Rally, sempre conduzidos por moços de fato de treino, boné e com uma pose algo descaída para cima da manete das mudanças.
Confesso que não fazia parte dos meus gostos musicais e nem tão pouco ponderava a hipótese de me abanar ao seu som, quanto mais dançar!
Mais uma vez...enganei-me! Confesso que em Angola é fácil enganarmo-nos sobre o que achamos que gostamos, queremos e vamos fazer! Again, deve ser do clima!
Kizomba: Género musical originário de Angola. Trata-se de uma fusão do semba com o zouk. Desenvolvido principalmente desde os fins dos anos 70 principios dos anos 80, os primeiros kizombas surgem com uma banda pertencente às Forças Armadas Popular de Libertação de Angola (FAPLA), os Fachos. Adicionando um ritmo lento e extremamente sensual ao semba, nasceu o kizomba. Uma dança a dois, quente, suave, contagiante e sensual em que os pares se movem de forma suava, não raramente causando uma excitação devidos aos movimentos sugestivos. Essa excitação é tida como normal (lá está, um povo quente e apaixonado) e apreciada como parte integrante da experiência musical (danças bem, mas não me alegras, não será certamente a expressão ideal lol). Ritmo único, libertinoso que incita a folia (a sério?! ninguém diria!!!)
Esta música também é bastante profunda! Então não é que o homem (ou melhor, cota) coitado que vivia bem e até, note-se CHEIRAVA BEM, não encontrava uma dama que fosse para ele?!
Isto retrata lindamente a busca infindável pelo amor! Bonito, não é?
Se ouviram as músicas (aqueles que não conhecem passam a conhecer, os que já conhecem...relembram), pode ser que percebam a dimensão da coisa...ou não!
Até agora confesso que não tenho tido grande sucesso na apresentação destes hits.
Há coisas que só fazem sentido em alguns lugares e que, quando desenquadradas desse contexto perdem completamente o significado, a mística!
O que é certo é que estas música povoaram as minhas noites por lá e me fizeram abanar (dançar talvez seja exagero da minha parte lol) muitas e longas horas.
lolol
ResponderEliminarNão tens de quê. ;)
Convencido! ;P
ResponderEliminarFaço por isso. :D
ResponderEliminarProva...SUPERADA!!! =D
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