A sôdona Fernanda é daquelas sôdonas na casa dos 60 e tal anos que não trabalham e que se referem às suas crias como "a minha Magui ou o meu Chiquinho".
Como uma boa sôdona que é, tem tempo de sobra para se preocupar muito com as notícias do prédio, para reclamar com tudo, seja o pêlo do cão do vizinho de cima que lhe caiu na varanda, ou o barulho que outro vozinho fazia e que às 23h não deixava a sua Magui - coitadinha, uma latagona gorda e anafada, de quase 30 anos alapada em casa da mãe - descansar o suficiente para enfrentar com bravura o trabalho no dia seguinte.
Naturalmente que também há um macho - que neste caso está longe de ser alfa, é assim mais para o epsilon do que outra coisa - que lá anda, cabisbaixo, sempre pronto a fazer o que lhe mandam. É daqueles maridos que, mesmo havendo garagem, deixa a sôdona à porta do prédio e vai ele estacionar porque ela, já se sabe, sempre muito atarefada, não tem tempo a perder, que a sopa e o jantar não se fazem sozinhos e o que seria se desse a fome à sua Magui e não houvesse o que trincar? À pois é, que isto são só preocupações na vida da sôdona Fernanda. É uma agitação, um corre-corre, uma lufa-lufa de trabalho e afazeres que a coitada não tem descanso nem para onde se virar e, vejam lá bem, tem que aspirar a casa ao Domingo às 8h da manhã pois nem ao fim-de-semana pode haver descanso. Isso é que era bom! Olha agora dormir um bocado num domingo de manhã, aspirar mais tarde? Não queriam mais nada. Daqui a nada ainda perguntam se, uma vez que não trabalha fora de casa, não podia aspirar a casa durante a semana, querem lá ver?
Acredito que haja uma sôdona Fernanda em todos os prédios. Não me parece que esta seja espécime único. O que eu tenho pena e que no meu prédio a sôdona esteja mesmo por cima de mim.
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