...que custa muito ir trabalhar a seguir ao fim de semana, que acordar cedo é horrível, que ninguém merece isto de estar num escritório, ou seja lá onde for, horas a fio para ganhar a vida e que trabalho, se fosse bom, ninguém nos pagava para o fazer e não se chamava trabalho, mas sim forró.
Seus meninos! Isso mesmo, sois uns meninos e só me apraz dizer: IDE-VOS QUEIXAR PARA O DIABO!
Pois que uma mulher sai de casa para ir ganhar a vida e ao voltar ao seu lar, directamente ,sem passar na casa da partida nem na natação da criança, lá está, porque à segunda-feira custa muito e a mulher estava muito cansada pois a vida custa imenso a ganhar. ao entrar com o carro na garagem repara, diria até que sente, algo estranho. Havia água a correr rampa abaixo chegando já ao -2. Olha, hoje é dia de limpeza das garagens - pensa ela. Na garagem está o senhorio, dono do prédio, a fazer-lhe sinais, a gesticular entusiasticamente, enquanto ela estaciona. Ela, querida e educada que é, também lhe acena enquanto faz a manobra, pensando tartar-se apenas de um cumprimento mais caloroso.
Ao sair do carro ele diz-lhe que ela tem uma fuga em casa. Uma fuga? ahahah, que engraçado. Uma fuga...e é durante a viagem de elevador, perante o ar preocupado do homem, que ela pensa que talvez haja mesmo qualquer coisa de errado lá em casa. Qualquer coisa de errado é ser modesta. Na verdade ao abrir-se a porta não havia nada de errado. Havia todo um dilúvio, toda uma inundação, toda, TO-DA uma casa coberta de água. Não eram umas pinguinhas, não era uma cozinha alagada, era uma altura de 2/3 dedos (dos grossos) de água que saia por onde podia: pela porta da frente e escadas abaixo, pelas portas para o terraço, enfim, não havia um canto seco.
Ainda bem que a pobre mulher estava cansda e que só queria ir para o seu lar, doce lar. Ainda bem que ela planeava um jantar óptimo seguido de um serão quente e confortável no sofá porque se não fosse a amiga, a mãe, o cunhado e até a vizinha do lado a darem uma ajuda, a esta hora ela ainda estaria sentada no chão a chapinhar na poça enquanto chorava copiosamente. E o macho-alfa, onde é que anda? - perguntam vocês. O macho-alfa está seco e a sul a queixar-se, espantem-se, que não pôde plantar a vinha porque - que desgraça - o terreno estava muito molhado. Irónico, não é? Diria até que isto é a mehor e a mais pura das sintonias amorosas: ambos lixados, preocupados e com a vida virada do avesso por ter os pés molhados.
Ainda assim podia ser pior. Em vez de ficar com o chão todo rebentado, com a casa toda molhada, com 11 tapetes encharcados no terraço na esperança que estes sequem antes de ser Verão (isto se não chover mais), a rezar para que os móveis de madeira se aguentem, que os quadros que estavam no chão à espera de um dia serem pendurados sobrevivam, a inundação podia ter feito um curto-circuíto e o que não estivesse molhado estaria ardido. Acreditem que ela até está feliz, diria mesmo grata, por a água não ter subido o suficiente para lhe molhar a cama ou pior, que tivesse chegado às gavetas dos sapatos.
Agora diz que a moça vai só ali deitar-se no sofa a pensar na real merda de dia que teve e esperar que isto seque enquanto faz figas para que o dia de amanhã seja um cadinho melhor e que, acima de tudo, não chova!