quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pingo Doce venha cá

Hoje o assunto do dia não foi a chuva, o sol, as manifestações, a feira do Livro nem o feriado. Hoje o Pingo Doce esteve na ribalta pelo que, quer concorde quer não, aqui fica um sim Sr., Sr. Jerónimo Martins! pelo grandioso golpe de markting.
Não me choca que o pessoal aproveite um dia com 50% de desconto (sim, 50% ainda é dinheiro, pelo menos para mim) para fazer as compara do mês. Não me choca que o pessoal do Pingo Doce tenha ido trabalhar no Dia do Trabalhador (e pelo que sei vão ter direito a 1 dia de folga e, tal como manda a lei, foram pagos a dobrar). Não me choca (também não acho que o feito tenha sido de uma enorme grandeza nem gigante generosidade) a campanha feita pelo grupo e não, não acho que tenha sido só por o povinho delirar com descontinhos que o dia de hoje tenha sido um fenómeno/espectáculo/degredo.
O que me choca verdadeiramente é a capacidade que as pessoas têm de se transformar [ou revelar] em perfeitos selvagens! O que me choca são as pessoas soltarem o bicho que há em si em troca de trocos.
Desde que me entendo por gente que as compras da casa são feitas no Pingo Doce e na minha casa a tradição mantém-se, aliás, acho que nem sei fazercompras noutro sítio. Sou uma moça de hábitos.
Hoje, tal como em muitos dias que tenho livres, aproveitei para ir às comprar e sim, o facto de ter 50% de desconto no sítio do costume agradou-me.
Não me deslumbrei pelo desconto e não comprei mais do que habitualmente compro. Não comprei nada diferente da minha habitual lista de compras nem sequer comprei em quantidades industriais pelo que o Calvin não vai comer mais Cerelac, não vai beber mais sumos, não vai comer mais fruta ou mais arroz nos próximos tempos do que já comia ou bebia antes. Não fiquei com a despensa a transbordar nem tive que acondicionar rolos de papel higiénico, pacotes de esparguete ou paletes de leite debaixo da cama.
Fui, tal como tantas outras vezes, ao supermercado do bairro (que ainda é mesmo de bairro e não uma grande superfície) comprar as coisas que me faziam falta...e nada mais!
Se poupei uns trocos? Claro que poupei, e isso sabe sempre bem. Se precisava disso para fazer o avio para o mês? Não. Felizmente não preciso das promoções do Sr. Jerónimo Martins para comer, mas teria de ser muito hipócrita se dissesse que não gostei de lhe ter dado apenas metade do dinheiro que habitualmente lhe dou.
O que me deixa mesmo impressionada, o que realmente me marcou hoje foi a ganância desmedida e a falta de civismo das pessoas.
Não vou tecer juízos de valor sobre quem aproveita um desconto, mas não consigo não o fazer sobre quem, em vez de ir às compras, faz pilhagens nos supermercados. Não consigo deixar de pensar que muito antes das prateleiras do leite estarem vazias, na dos vinhos, vodkas, cervejas, gins e afins já não havia uma gota para contar história, que antes de se acabarem os iogurtes ou o pão, já não havia um camarão e que as batatas fritas, as tiras de milhos e os rolinhos de queijo desapareceram muito mais depressa que os cereais, que os legumes e que a fruta, que ainda lá devem estar. Isto leva-me a pensar que se calhar o povo não está em crise por não ter dinheiro para comer, mas sim por não ter dinheiro para petiscar. Prioridades...
O facto de ver também quantidades obscenas de comida estragada pelo chão, de ver garrafas partidas, garrafas meio bebidas, queijos atirados para as arcas congeladoras, ovos pelo chão e pessoas quase à chapada por uma garrafa de whisky, faz-me perceber também o porquê de, em caso de guerra nuclear, as baratas serem as únicas que se safam. Se com uma promoção há tiros, chapada, pilhagens e saques, não quero imaginar em caso de crise a sério!
Vá, tenho que admitir também que me faz muita alguma espécie o facto das pessoas comprarem 10 desodorizantes quando a avaliar pelo cheiro nem 1 usam, mas isso sou eu que às vezes sou estranha.
Algo me diz que no próximo fim de semana muitas destas coisas vão estar outra vez "em promoção" lá pela feira do Relógio e que no próximo Natal ainda vai haver gente a receber chocolates, bombons e caixas de bolachas de manteiga compradas hoje...ou se calhar sou só eu a ser má outra vez...

3 comentários:

  1. Acertaste na mouche. E és a primeira pessoa que vejo a contar que esteve lá. Parece que a blogosfera tem vergonha de admitir que aproveita as promoções... a não ser que sejam promoções de roupa ou gadgets, claro.

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    1. Sabes como é Julie, ir comprar comida sobre a qual não podes publicar fotos nos posts e mostrar o quão gira ficas, não é fashion :)
      Eu não tenho problema algum em aproveitar promoções. Apenas fico contente de não depender delas para compar o mesmo que comprei ontem, mas se puder gastar apenas metade...melhor ainda. Com o que poupei ontem ainda vou comprar "uns trapos" e quem sabe ainda me torno numa blogger mais fashion :)

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  2. Concordo plenamente contigo... quando primeiramente defendi a abertura das lojas e a campanha de marketing (com segundas ou terceiras intenções) no 1º Maio pensando que muitas novas famílias com necessidade poderiam aproveitar para encherem mais um pouco a despensa, ao longo do dia, e pelas notícias que fui lendo, percebi que havia ali qualquer coisa que não batia certo. Das duas uma, ou em um mês que estou no Brasil, tínhamos entrado numa crise humanitária, só comparável com as entregas de mantimentos nos países sub-desenvolvidos, ou tínhamos entrado em Guerra. Afinal entendi que era uma guerra contra nós mesmos. Ahhh! Fez-se-me LUZ! Afinal a crise que estamos a atravessar é uma crise de valores, morais, humanos... e de repente vi o meu país, pelo FB (e não por um canudo) virando um país de vampiros e animais. Tenho pena. Possivelmente eu se aí tivesse também teria aproveitado, mas felizmente aprendo aqui a ser mais relaxada.. e se puder evitar confusões ou atropelos, melhor. Tudo tranquilo. Lamento imenso é por essa gente que vai ter de comer bolachas e beber vodka como se não houvesse amanhã... Beijinhos da Luso-"brasileira"... ;-)

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