quinta-feira, 8 de junho de 2017

Inspira...expira...não pira!

Diz-te a médica que andas acelerada demais e que, a bem da sanidade mental da feijoca e da tua, melhor será vires para casa de baixa para aquilo a que ela apelidou de um mês calmo, zen e relaxado.
Não sabendo tu se no escritório seria um "bom Santo António, malta" ou um "Feliz Natal e Boas Entradas", resolves deixar alinhavado para qualquer eventualidade o maior número de coisas possíveis e vais de baixa quase uma semana depois da médica te ter mandado.

Dia #1: Reservas o dia para tratar da papelada e burocracia no centro de saúda - check; para organizar umas coisas leves em casa - no check - avaria-se a máquina de lavar loiça. Pensas com os teus botões que não há motivo para arrelias, afinal não te podes enervar, e isto é só um problema menor que se resolve contactando o técnico.

Dia #2: Deixas a criança cedo na escola. Vais comprar as coisas que faltam para a viagem de finalistas do 4º ano (no meu tempo a moda só começou no 12º ano e ainda assim acharam precoce. Adiante...) e resolves ir ao cabeleireiro porque, segundo indicação médica, relaxar implica também tratar e ter tempo para mim. Fazes a mala da cria que já anda cá fora, vais levá-la ao colégio. Enquanto te diriges para uma merecida água das pedras fresca com limão no lugar da jola que os 30ºC estavam a pedir, planeias o dia seguinte, onde contas estar na praia, desta feita com um bom livro em vez de uma bola de futebol, com o som das ondas em vez de pan pipes e sons de passarinhos a chilrear, pensando que isso sim vai ser descanso, seguido de uma sessão de massagens num SPA que vai-te saber que nem ginjas. Estás parada no semáforo, perdida nos teus planos e agradecida pelos dias de relaxamento que o passeio do mais velho te vai proporcionar, metes a 1ª mal cai o verde e...nada. O teu carro não anda. Em vez da Smooth Fm que tocava no carro, ouves antes um "patinar" estranho de uma mudança que não arrancou. Mau! Metes a 1ª outra vez. O mesmo som. Experimentas a 2ª, a marcha-atrás...igual.Avenida cheia de trânsito, gente simpática a buzinar, certamente como forma de me perguntar se precisava de ajuda, Metes o triângulo, veste o colete e chamas o reboque. Diz que o kit de embraiagem morreu. Montas-te no reboque até à oficina onde, calmamente te dizem que 700€ e a coisa está resolvida 6ª feira até ao fim do dia. Respiras fundo, afinal, não te podes enervar, não é? Vais buscar o velho Twingo roxo, esse sim nunca falha, e ficas feliz contigo própria por te teres lembrado de tirar o chapéu de sol e o comando da garagem do carro empanado.
Segues para casa sem direcção assistida e sem ar condicionado, a repetir insistentemente que dinheiro é papel, como se fosse um mantra, e a pensar que podia ser pior. Se fosse a caixa de velocidades era mais caro.
Chegas a casa, deitas-te no sofá, pegas no comando e resolves ver um filme, provavelmente uma comédia romântica a ver se desanuvias. Erro. Liga, desliga, faz reset...erro! Ligas para a ZON. A box marou e terei resposta da equipa técnica no prazo máximo de 48h.
Tendo em conta continuo a respirar de forma calma e até consegui pintar as unhas sem parecer que usei uma trincha das paredes, mesmo as da mão direita, acho que posso mandar um sms à minha médica a agradecer-lhe a baixa e os ensinamentos pois, no meio de tudo isto continuo relaxada. Ainda não atingi o Nirvana, mas neste momento já posso ser considerada um Buda e não é só pelo tamanho da minha barriga.

2 comentários:

  1. Amei todo o relato Anita! E estranhamente a minha gravidez também foi o tempo amis zen da minha vida, mesmo andando a apanhar aviões nos priemiros 5 meses de grávida.

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  2. A minha primeira não foi tão calma e confesso que nesta tive alguma dificuldade em desligar, mas quando consegui...adorei a sensação. A ver se consigo manter-me um Buda até mesmo ao fim :)

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