quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Sometimes you've got to "shoes"

Há quase um ano fechada em casa, sem saída que justifique mais do que as havaianas que usei no verão e os ténis que calço para ir à mercearia desde então, tornei-me numa espécie de matrafona arranjada a meio termo, ou seja, qualquer coisa do tipo "da cintura para cima", mas definitivamente sem incluir sapatos.

Ora bem, se a gravidez dá desejos (ou pelo menos assim o dizem, que eu cá nunca os tive), porquê que a clausura não pode ter o mesmo efeito?

Tirando o desejo de voltar à normalidade, tal como os desejos de grávida, os meus desejos na clausura são também considerados excêntricos. Assim ao nível da grávida que quer comer bagas do Kilimajaro, colhidas por um anão mongol durante o primeiro raio de sol em manhãs de verão.

Se os pais das futuras crianças são obrigados, a bem da sua integridade física e mental, correr seca e meca para satisfazer os desejos da grávida, creio que também não será prudente ignorar os desejos de uma enclausurada.

No meio dos pensamentos sobre os meus desejos exóticos, surgiu-me uma questão: porque razão desejamos nós aquilo que não faz sentido nenhum ter?

No campo dos desejos devia esperar-se que, de certa forma, eles tivessem alguma utilidade imediata, que suprissem uma necessidade básica e de urgência inadiável. Gostava de dizer que sim, de forma prática e inequívoca, mas tal afirmação seria o mesmo que atentar contra a própria natureza dos desejos.

Independente do meu estado de liberdade ou de graça, os meus objectos de desejos sempre foram sapatos. Muitas as vezes saí de casa com a  missão de trazer comigo roupa que, na ausência daquilo que procurava, era substituida por mais um par.

A clausura só me aguçou ainda mais o desejo e, no momento em que os meus passeios se resumem à ida à sala e vinda à cozinha, com passagem pela secretária onde trabalho, a necessidade de uns sapatos novos que não vou calçar tão cedo, é quase incontrolável.

Em tempos tinha dito que a minha prenda dos 40 anos seria este, há muito cobiçado, par de sapatos. Não foi e eu sinto-me sem alento para esperar até à chegada dos 41.

Vou dormir mais umas noites sobre o assunto. A almofada costuma tranquilizar mentes inquietas e desejos extravagantes.

Em alturas em que nos sentimos presos, privados de tudo o que gostamos, we have to "shoes" wisely.

#confinamento #desejos #manoloblahnik

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Bater no fundo

Sempre que achamos que estamos a bater no fundo, descobrimos que há sempre mais um degrau para descer.

Hoje, às 15h, às três da tarde, disse à cria mais velha que o jantar estava quase pronto. Podia ter-me enganado e estar-me a referir ao almoço, mas não. Não houve qualquer erro na frase que me saiu pela boca e me ficou a ecoar na cabeça.

Estará esta pandemia a fazer de nós, mãe-mulheres-trabalhadoras mais sopeiras ou estamos só todos a ficar doidos?

A frase podia nem ter nada de muito errado caso fosse uma "stay at home mom's", mas não sou, pelo menos não no verdadeiro conceito. Stay at home é o que mais somos neste momento, sucede que, pelo menos no meu caso, home já não é só home. Home passou a ser também o escritório, o ginásio, o cabeleireiro, a esteticista, o café, o restaurante, o cinema, a discoteca, o bar...é tudo.

A esta hora que vos escrevo já fiz 45min de exercício, já tratei de mim, das crias (incluindo mascarar a mais nova com um vestido de princesa - outro - acabadinho de chegar), já teletrabalhei, já paguei contas, já dei almoços, já arrumei a cozinha e, tal como mencionei logo no início, já tenho o jantar quase pronto enquanto voltei ao teletrabalho.

Aquilo que em tempos seria uma pausa para um cigarro e dois dedos de conversa com colegas é agora a pausa para estender roupa, para pôr a máquina a lavar, para trocar uma fralda, para dar o lanche, para pôr a dormir a sesta, para ver como estão a correr as aulas online do mais velho ou para, como estou a fazer agora, escrever meia dúzia de baboseiras no blog.

Se antes nos arranjávamos para ir para o trabalho, agora aparecemos nas reuniões de equipa com umas orelhas de gato na cabeça - na melhor da hipóteses uma coroa - pois a cachopa não se entretém sozinha, e ainda assim queremos ter um ar respeitável, de profissional que deve ser levada a sério.

Podia estar aqui a baber palminhas a mim própria por tamanha capacidade de multitasking, mas não só seria algo ridículo, como na verdade não me parece que haja alguma coisa para comemorar.

Creio que estou com problemas de comunicação com o universo e cheira-me que não é de agora, mas vá. Há muito tempo que digo que quero ser dondoca. A pandemia e os sucessivos confinamentos não me fizeram mudar de opinião, mas carece explicar que não era bem isto que eu tinha em mente quando o desejava. Por dondoca eu não queria dizer uma sopeira enclausurada a trabalhar ainda mais do que trabalhava quando estava naquele pequeno infeno com luzes fluorescentes, acumulando javardamente todos os afazeres de mãe e do lar, sem ter sequer aquele escape de fim de tarde ou de fim de semana onde havia espaço para estar com amigos, para beber um copo, para dar um pé de dança, mesmo que esporádicos.

A minha profunda admiração vai para todas aquelas que, estando na mesma situação que eu, pelo menos no que diz respeito a estar em casa, conseguem aparecer nas redes sociais com óptimo ar, com cabelos maravilhosos, outifts elaborados e glamourosos. Eu não consigo sequer ter a roupa em dia e hoje, ao calçar uns ténis numa tentativa ridícula e desesperada de parecer mais composta, constato que me apertam os pés, os quais, há meses, não sabem estar de outra forma a não ser de meias.

Também sei que os meus queixumes são tão insignificantes que, perante todo o caos que pulula fora da minha porta, me devia sentir profundamente envergonhada por os estar a verbalizar. Talvez. No entanto a minha vida passa-se cá dentro, no 3 frt desta comuninade vertical onde habito e por isso sinto-me no direito de me queixar. É aguentarem! (adoro dizer isto assim à laia de quem está a dar uma justificação a um séquito de seguidores que na verdade não devem mais mais do que 2 ou 3).

#avidaemconfinamento #pandemia ##fucksómeapetecedizerasneiras

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Efeito Placebo

 Quase tudo o que faço tem em mim um efeito placebo. Seja um creme para o cabelo usado uma única vez, sejam 2 dias a fazer exercício em que me sinto logo em forma, seja um medicamento. Tudo, até dieta. Faço uma alimentação mais cuidada 1 dia e já me sinto 2kg mais leve.

O problema é que, neste último caso, vai tudo por água abaixo quando tento vestir umas calças esquecidas no armário desde os tempos em que se podia andar por aí à solta, sem máscara e sem álcool gel. Juro que estavam largas nessa altura. Juro! Agora estou a sentir-me uma picanha embalada em vácuo, estou faminta e desolada com os parcos resultados que, de acordos com este trapo que envergo com esforço, estou a ter.

Ainda bem que não tenho uma balança cá em casa ou neste momento, em vez de estar a escrever, estaria certamente a chorar em cima dela.

#quandoacabarapandemiarebolo #énãodesistirabemdomeuroupeiro #dieta

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A vida confinada

 Cá estmos nós no segundo confinamento.

A verdade é que isto dos confinamentos é mais ou menos como as vagas da covid19 - há quem diga que estamos na segunda, outros na terceira, mas a verdade é que não se percebe bem onde é que acaba uma e começa a outra.

Ora bem, isto de estar enclausurados numa casa, parecendo que não, além de meio doidos e anti-sociais, novamente adeptos das leggings e dos fatos de treino que (quase) todos nós jurámos a pés juntos que jamias voltaríamos a usar, temo transformar-me numa esfregona, ainda que a aspiração fosse algo próximo de uma decoradora de interiores misturada com o Bob o construtor.

Até agora (ainda) não peguei na tinta e no rolo, mas o confinamento está para durar por isso, não vamos lançar foguetes antes da festa. Desta vez resolvi pegar na casa em geral e no meu quarto em particular.

Vai daí, enveredei por esse mundo que é comprar mobílias online e confesso que estou em choque. Por momentos achei que ia ter de vender um rim, um apêndice e mais umas miudezas para poder comprar móveis que não fossem feitos de aglomerado nem fossem provenientes de uma marca sueca. Juro que tentei apostar no nacional, mas confesso que cómodas com 4 digitos largos e mesas de cabeceira a preços de malas YSL, quase que me deixaram motivada a investir em ferramentas e tarolos de madeira para um verdadeiro DIY.

Valha-me a resiliência que tenho desenvolvido neste longos meses que me fez encontrar uma loja francesa (e não foi a La Redoute) onde consegui encontrar tudo o que precisava e ainda, não de somenos importância, me permitiu conservar todos os meus orgãos internos. Agora estou em fase de desenvolvimento da minha paciência uma vez que vou ter de esperar 1 mês e meio para que me entreguem as coisas em casa. Acho que apesar de tudo vale bem a espera para conservar um rim.

Já agora, deixem-me avisar alguns senhores do mercado nacional que nessa mesma loja vi o mesmo  candeeiro pelo qual me pediram 170€ cá, por 90€. Vá lá malta, eu sei que os tempos estão dificeis, mas quase o dobro do preço é esticar a corda, ok? 

Mas vá, para não dizerem que não apoio o mercado nacional, meti finalmente cortinas nas janelas que faltavam- e olhem que eram muitas - cortinas essas que vieram, depressa e bem, de uma fábrica no Porto. High five para vocês que vendem produtos nacionai e bem feitos sem tirar o escalpe aos clientes. Ganharam mais uma fã. 

A este ritmo não sei o que vai demorar mais, se a pandemia ou a reforma do meu quarto, mas gostava que ambas terminassem depressa e sem dor, de preferência antes de eu resolver começar a partir paredes. É que uma pessoa começa com uma pequena mudança, um pequeno apontamento, diz que é só uma jarra ou umas capas novas para as almofadas e, quando dá por ela, tem uma casa nova.

#homesweethome #apandemiafezdemimumadecoradora