terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Anita, senta-te aqui que há muito tempo não falo contigo.

Juro que não me apetecia ter esta conversa, mas por mais tempo que passe, não aprendes e como não aprendes, obrigas-me e vir aqui para a tua beira dizer-te umas coisas.
A grande maioria das pessoas vive para receber. Não comeces já a dizer que são más, que são egoístas, que são umas chupistas emocionais, umas sanguessugas de energia e boa vontade alheia, que até podem ser, porque na verdade são pessoas e isto faz quase parte da sua natureza. Sim, bem sei que vais dizer que não és assim, que te preocupas mais com os outros do que muitas vezes contigo, que achas que é no dar que está o ganho e que se todos derem, obviamente todos recebem, que por mais que consigamos tratar de nós, é bom quando há quem o faça também, ou que pelo menos se predisponha a isso. Isso é tudo muito certo, tudo muito bonito, mas na vida real, e é lá que vives, sabes bem que as coisas não são assim. 
Repara, Anita, cada um tenta safar-se por onde pode. Cada um tentar fazer ao máximo aquilo que quer e lhe dá prazer e, por norma, ajudar os outros implica, quase sempre, um esforço adicional. Implica que tenhamos de fazer um desvio no nosso trajecto, desvio esse que só leva à felicidade do outro. Implica ter uma coisa chamada empatia. Eu sei que tu sabes o que é, mas acredita que a maioria não sabe, mesmo que afirme a pés juntos que sim. Ora bem, não havendo uma mais-valia para quem tem de fazer esse esforço extra, excusado será dizer, que não tem grande motivação para o fazer, entendes? Se é triste? É. Se as pessoas estão cada vez mais focadas no seu umbigo? Estão. Se são muito poucos aqueles com quem podemos realmente contar e, seja qual for o esforço que é preciso fazer, estão lá? São. Pouquíssimos!
Então vá, comecemos pelo ponto fundamental, pelo ensinamento mais importante e que jamais devemos esquecer: separar o trigo do joio. É isto que nos permite ir sobrevivendo nesta montanha-russa que são as relações com outros seres.
Segunda coisa que nunca, mas mesmo nunca podes ignorar, e apesar de vir em segundo lugar não é somenos importante, é focares-te em ti. Sim, ouviste bem. Em ti!
Como já te disse, as pessoas olham para si próprias. Se só olhares para e pelos outros, quem é que toma conta de ti, rapariga? Deixa lá isso de fazer das tripas coração para fazeres os outros felizes. Se tivesses esse mesmo empenho, essa mesma dedicação para te acarinhares, arrisco dizer que os que te rodeiam tratar-te-iam da mesma forma. Sabes que nós fazemos as regras de como queremos, devemos e merecemos ser tratados. Quando nos menosprezamos, de alguma forma dizemos ao outros que podem fazer o mesmo. Aguenta que é a mais oura das verdades. 
Em terceiro, e por último que não te quero maçar muito, aprende de uma vez por todas a dizer não, mas sem espernear. Basta só dizer não, como tantas vezes dizes aos teus filhos, sabes? Aquele não inequívoco e irrefutável, naquele tom de voz baixo e calmo, que não deixa margem para contestação nem dúvidas? Esse mesmo.
E se não aprenderem? Já sabia que ias fazer essa pergunta, mas tu és uma rapariga esperta e eu sei que tu sabes a resposta. Se não aprenderem é fácil. Desliga. Deixa as pessoas seguirem o seu caminho sem seres tu a desbravá-lo primeiro. Lá está o separar o trigo do joio outra vez. Cerca-te dos que já sabem essa lição e dos que a quiseram aprender. O resto a onda leva e, acredita, que não te vão fazer assim tanta falta. 
Sabes que és capaz de muita coisa. A vida já te mostrou isso, e embora me irrite ter de te dizer disto de tempos a tempos, sei também que às vezes precisamos que nos lembrem destas coisas. Afinal, é também para isso que eu cá estou. 
Vá, agora vai lá sacudir o pó que tens no cabelo (um dia juro que temos de ter uma conversa sobre ti e isso do bricolage, mas não é hoje), respira fundo, descansa a cabeça e esse coração que as coisas são como são e neste caso, não são assim tão grandes nem importantes, assim tu te ponhas sempre em primeiro lugar. 

Sem comentários:

Enviar um comentário