quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Anita vai a uma Field Trip

Entre muitas outras coisas, a Anita é também uma geóloga e como tal, o convívio com o ar livre e com os calhaus é extremamente necessário e desejado.
Isto de ser geóloga tem muito que se lhe diga! Há quem pense que ser geóloga é andar a brincar com pedrinhas, mas a gente não liga a isso! Também não me vou pôr para aqui a discursar sobre as maravilhas da geologia ou sobre o seu papel importantíssimo e de destaque, tanto na comunidade científica como na sociedade em geral! (estarei no entanto disponível para o fazer caso hajam alguns incrédulos, em especial Engºs, que tenham alguma dificuldade em chegar lá sozinhos ;P).
Pois bem, encontra-se agendado para esta 6ªfeira e Sábado, um acontecimento muitíssimo importante. Não, não é a cimeira da NATO, é muito mais importante que isso, e sem cortar estradas!
É nada mais, nada menos do que uma Field Trip na qual Geocientistas e Engºs (LOOOL) vão partilhar uma experiência outdoor! Curioso não é?
Finalmente vamos dar uma oportunidade aos Engºs de verem o que é trabalho a sério, o que é ciência, o que é...o mundo para além de um monitor e de uma folha excel!!! Vamos alargar-lhes os horizontes, portanto!
Para nós, geólogos em geral (sim, eu confesso que existem algumas excepções que confirmam a regra), uma field trip é um must do, é o nosso habitat natural e onde nos sentimos..."como peixe na água", e que culmina sempre com (não, não é com uma folha excel para descrever o percurso utilizando fórmulas que provavelmente não entendem) uma bela jantarada, copos e convívio!!! Ser geólogo tem destas coisas... Um livro de campo não é um livro de campo se não tiver um roteiro gastronómico das áreas por onde se passou! :D
Agora há aqui um aspecto curioso, digno até de um estudo sociológico e comportamental.
A comunidade das geociências encontra-se animada com a possibilidade de passar uns dias longe de uma secretária, de um PC, de uma folha excel. Já os Engºs...estão todos com um ar apreensivo (mais do que é normal) e com um misto de medito (isto sabe-se lá o que se pode encontrar na rua? e o frio? afinal o campo não tem AC...há onde ligar o laptop? e net? há net?) e excitação. É que lá no fundo, no fundo, uma saída destas representa quase um sonho de criança! Eles já se estão a imaginar todos vestido de caqui, com coletes à coleccionador de borboletas, com botas de montanha, faca do mato presa no cinto e panamá na cabeça, qual Indiana Jones (mas vá, sem chicote) numa expedição em busca da Arca Perdida! Mas sendo eles Engºs, é claro que não me vou surpreender quando começarem a puxar dos GPS's (os quais julgam servir só para a menina com voz radiofónica dar indicações de como chegar ao destino), dos walkie-talkies (ahhh, um clássico para a expedição estar completa) e até mesmo de um notebook (este último apenas para os que tiverem mais aptidões para Sherpa) que lhes vai permitir pesquisar no Google o que andam a ver por essas paragens...rochosas! Vá, e se largarem uma lagrimita ou outra de emoção ou mesmo medo, nós vamos fingir que não vemos, tá?
Pois bem, nós como geólogos preocupados e solidários que somos, tratámos de lhes dar algumas dicas que lhes poderão ser úteis em questões de sobrevivência no mato (para quem não sabe vai ser ali para os lados de Peniche, sim, sim, aquela selva perigosa!)
Dica nº1 - Não é preciso usar fato e gravata.
(esta dica pareceu ter causado algum espanto e preocupação na comunidade de Engºs. Então se não vamos de fato e gravata, vestimos o quê??? Vamos nus?!)
Dica nº2 - Levem um caderno, vá um bloquinho, para poderem tirar notas.
(O quê? tirar notas à mão? Então e o meu laptop, não vai??? PÂNICO!!!)
Dica nº3 - Em caso de se perderem, e uma vez que de certeza não se vão conseguir orientar nem com o GPS que estranhamente perdeu o pio e só dá coordenadas, fiquem sentados, sossegadinhos que nós havemos de os encontrar. Se quiserem podem ir emitindo uns sons da sua tribo para facilitar a nossa busca (em todo o caso eu vou levar o Horácio para ficar no grupo deles. Ele já está habituado a estas coisas e sabe bem o que fazer em caso de perigo iminente).
Dica nº4 - Apesar da maioria dos afloramentos ser em zona de praia, todos os equipamentos existente para esse ambiente são dispensáveis. Por isso, escusam de ir carregados com sombrinhas, geladeiras, toalhas de praia, braçadeiras e bóias com patinhos (pés de pato e pranchas de surf para os mais afoitos) pois isto é trabalho e não férias! (além do tempo não ajudar a esses veraneios).
Dica nº 5 - Não alimentem animais!!! Esta é muito importante. Nunca se sabe que feras perigosas habitam tão inóspito habitat e a última coisa que queremos é aparecer nos jornais por algum Engº ter desaparecido ou ter sido devorado por um dinossauro, um tigre-dentes-de-sabre, uma piton ou qualquer outro monstro por lá possa haver.
Em todo o caso, eu já preparei uns kit's SOS. Esses kit's são compostos por: um balde, pá e forminhas para a areia (sempre podem ir brincando em caso de não perceberem mesmo nada do que estamos a dizer/fazer); uma chupeta (sempre serve de aconchego emocional até à nossa chegada, em caso de se perderem); um foguete de sinalização (ao género Jurrasic Park ou petardo em jogo de futebol), uma barra de cereais (no caso de terem um "ratinho a roer") e um rolo de papel higiénico (isto nunca se sabe como é que eles lidam em situações de verdadeiro stress).
No final do dia, quando regressarmos ao hotel, enquanto os geólogos se juntam para o tal convívio, copos, festa e animação, eles podem sempre ir para o quarto dormir e refazerem-se do desgaste físico e emocional do dia (obviamente pois nós não deixamos nada ao acaso, será disponibilizado um ursinho de peluche a cada um para que não sintam tanta falta de casa).
Posto isto, resta-me dizer o típico "Fasten your seatbelts and enjoy your trip!" :D
Nota: Após esta expedição vão ser, naturalmente, exibidas fotos num post para o efeito ao estilo "BBC Engºs no mato" :D
Escusado será dizer que NÃO HÁ animosidade alguma para com a muy nobre e respeitada classe de Engº. Afinal, nós geólogos somos todos civilizados e sem peneiras algumas o que nos permite tratá-los como estimados colegas (alguns até...como amigos :D)

1 comentário:

  1. Também quero ir..... saudades de saídas de campo. Opá... há 2 anos que não vou a nenhuma; como geóloga estou-me a passar da marmita; como ser-humano, também!!!!

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