quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Era uma vez uma menina...


...que achava que o recreio era todo dela e que era ela, e só ela, quem comandava as brincadeiras.
Era ela que decidia como, quando e quem é que brincava. Ai de quem ousasse pisar fora da linha ou dizer-lhe que as regras do jogo não eram bem assim como estava a dizer. Mostrar-lhe que o recreio, talvez, não fosse só dela então, ui, era brincar com a vida e não lhe ter grande amor.

Essa menina era aquilo a que agora, nos tempos modernos, chamamos bully, mas na verdade, em bom português, era só uma mal-criadona a quem faltaram umas belas lambadas na tromba para ver se aprendia.
Ora um dia essa menina, após mais um dos seus desaguisados, não tendo e a pompa e circunstância que ela estava habituada, decidiu deixar de ir à escola durante uns tempos, por coisas lá dela, naturalmente. A escola não lhe sentiu muito a falta. A vida continuou airosa e pacata, sem peixeiradas nem desacatos. Não sei se por estar entediada ou com falta de atenção, a menina resolve aparecer numa bela manhã lá pelo recreio. Antes ainda andou a sondar sondar o quê que a malta achava sobre o seu regresso. Uns assobiaram para o lado, assim como se não tivessem ouvido a pergunta, outros dizeram que sim, que seria muito giro, exibindo um enorme e rasgado sorriso amarelo, mas o silêncio dominou. Ah, mas a menina não era de se ficar. Aliás, sempre ouviu dizer que quem cala consente e pumba, lá deu as caras, como se nada fosse. Acontece que o seu regresso não foi propriamente aclamado. Não foi levada em braços pela malta sedenta da sua companhia nem saudosa da sua presença e a menina ficou triste. Já se sabe que neste tipo de meninos a tristeza nunca dá para uma lagriminha no canto do olho, um suspiro, muito menos para um "vá lá, o que se passa? Gostava tanto de brincar com vocês de novo", não. Neste tipo de meninos a tristeza é mais frustração do que outra coisa e manifesta-se com maus modos, má-criação e aquele espernear desenfreado, mesmo a pedir um palmadão a ver se se acalma.
Agora é ver se ela entende a mensagem e se vai embora para outro recreio onde ainda a deixem brincar.
Afinal o recreio não era só dela e ela não era assim tão bully. Era só uma parva de merda.

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