segunda-feira, 25 de março de 2013

Disso do Sócrates acumular funções de comentador político na estação pública

Há muitos, muitos anos, quando ainda termos carro próprio era um feito digno de registo e mote para corridas entre amigos, vulgo exibicionismo em picos hormonais, vivia em eu casa da mamã, um amigo meu é presenteado pelos pais com um novo carro. Para terem a noção era um Renault Clio, mas na altura, ainda eu nem podia sonhar em ter carta, e em especial aquele modelo, era assim motivo de excitamento acima da média.
Vai daí, numa de experimentar o novo brinquedo, numa de se mostrar a potência (!) do dito e a suas qualificadas competências automobilísticas, esse meu amigo resolveu fazer uma demonstração numa pacata rua do bairro de Alvalade.
Como nessa altura as hormonas eram coisa que atacavam muitos, diz que houve mais quem se juntasse. Uns com carros menos novos, outros com jeito menos apurado, e lá vai disto.
Nessa altura, felizmente, eu era uma das moças que assistia ao espectáculo no camarote. A coisa estava animada e quase que só faltavam as "meninas da box" para o cenário estar completo.
Tudo estava a correr bem até um deles, um não tão brilhante condutor de um não tão fantástico Opel Corsa B (novinho, novinho, acabado de sair) se ter esmerdado num carro estacionado, propriedade de um vizinho que, àquela hora, devia dormir descansado.
Com aquele aparato todo, houve um desmancha prazeres, creio que os deve haver em todas as ruas pacatas de todos os bairros, que achou por bem chamar a polícia.
O que se tinha esmerdado contra o carro ali ficou, à espera que alguém aparecesse para resolver o problema, assim com (ainda mais) cara de parvo e os outros, mais sortudos, foram estacionar os carros voltando depois, impávidos e serenos, ao local do crime.
Quando a polícia chegou, só o azarado fanhoso (sim, para além de não saber conduzir era fanhoso) foi apanhado e o coitado lá se tentou explicar, lá tentou fazer com que eles acreditassem que ele vinha sozinho, calmamente a conduzir quando, do nada, se foi esmerdar num carro estacionado. Julgo que no meio do discurso ele era menino para dizer que o carro tinha ganho vida própria saltando para o meio da estrada sendo ainda ele, o fanhoso, a vítima. Os outros 2, contentes de só o fanhoso ter sido apanhado em falso, ficaram ali ao lado a fazer comentários e a dar palpites. "Uma vergonha! Esta malta nova não tens consciência nenhuma! Eu estava em casa, ouvi este barulho todo, mas quando cheguei cá fora...já não vi ninguém". Houve até quem já fantasiasse com os carros envolvidos e o Renault Clio passou a ser um carro potente, qualquer coisa entre um Ferrari e um Porsche.
Eu no camarote só me ria! Ria-me com a desgraça do fanhoso, com as teorias mirabolantes das testemunhas oculares e com a lata que os outros 2 tiveram de ir para ali, como se nada fosse, mandar a suas postas de pescada.
Deve ser mais ou menos isto que eu vou sentir quando o Sócrates estiver a tecer os seus comentários na tv. Desta vez só não me devo rir tanto porque, apesar de estar no camarote a ver, eu vou ser um fanhoso a quem esmerdaram o carro. Acho que assim não tem tanta graça.

3 comentários:

  1. Lololol... O que me ri com esta metáfora. :-)
    Mas é como tu dizes: ficar no lugar do fanhoso não tem graça nenhuma. Eu até nem ficava tão aborrecida, se o gajo não fosse ser pago a peso de ouro com o dinheiro dos contribuintes. :-(

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    1. Vá, alegra-te que eles disseram que o tipo não ia ser directamente remunerado (!?). MEDO!!!

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  2. .... gostei da quasi-comparação. Mas realmente, neste caso, quem se lixou, fomos nós. E não, não nos podemos rir do que se passa à nossa volta, como se nada tivesse acontecido. Somos um país de memória curta e sem coragem. Porque a ideia, normal em qualquer outra parte do globo - mesmo a mais desenvolvida - seria dar uns tabefes assim bem dados, assim que a criatura pisasse pé em solo português. Mas isso sou eu, que tenho mau feitio.

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