terça-feira, 6 de março de 2012

Dos jantares de família

Toda a gente terá, por muito enterrado que esteja no baú, recalcamentos de criança. Coisas que nos marcaram para a vida e fizeram de nós o que somos hoje. Eu também tenho os meus e normalmente saltam cá para fora em alturas de reunião familiar.
Hoje ficou bem claro a infância difícil que eu e a mana tivemos. O momento musical que hoje protagonizámos mostra o quão entranhado certos episódios ficaram nas nossas cabeças e eu diria mesmo que se caíssemos nas mãos de um psicanalista, não havia muito que ele pudesse fazer por nós.
Mana querida estava, num rasgo de loucura e bondade, a sacar comprar, que sacar é proibido, uns álbuns de Nana Mouskouri para a mãe na net. Eis então que começo a cantar a música Amapola.
Já não bastava eu estar espantada comigo própria [se calhar assustada é melhor] por me lembrar perfeitamente da música apesar de já não a ouvir há uns 20 anos ou mais, a mana ainda tinha de contribuir alarvemente para o meu susto espanto ao acompanhar-me num dueto.
Impressionante! Quanto mais cantávamos, mais a letra nos saía, não da boca, mas da memória!
Já não nos bastava saber o repertório completo da Ana Faria e os Queijinhos Frescos [o que já nos valeu uns episódios embaraçosos], já não era suficiente cantarmos, dançarmos e vibrarmos com os Abba, ainda tínhamos de saber cantar Nana Mouskouri. Amapola? Como é que é possível?!
Após o choque inicial, depois do meu filho dizer que cantávamos tão alto que até lhe fazíamos doer os ouvidos [aqui talvez o cachopo tenha confundido o volume com a qualidade sonora] e quando, à luz dos meus 31 anos reflecti no que tinha acabado de cantar, houve uma pergunta que me assolou o espírito. Por que raio cantava a tipa em espanhol se ela era grega?
Ok, o David Carreira, o David Fonseca, entre tantos outros, são portugueses e cantam em inglês, é um facto, mas a Nana Mouskouri cantar em espanhol parece-me estranho. Em inglês [que também canta] eu ainda percebia, mas em espanhol?
A verdade é que eu hoje, do nada, comecei a cantar a música sabendo-a de cor e salteado, eu e a mana. Às tantas falar em estranho neste momento é, no mínimo, despropositado, mas que posso eu fazer? Sou uma moça pragmática!
Não sei se a minha mãe tem noção do impacto que as suas escolhas musicais durante os 80's e 90's tiveram em nós. Já várias vezes afirmei que a música tem um papel preponderante na minha vida e esta Sra. tinha seguramente um lugar nas minhas memórias musicais infantis, mas não esperava que ocupasse tal lugar de destaque. Não esperava que no recanto mais profundo do meu cérebro estivessem lyrics desta natureza à espera de um momento [de fraqueza] para virem cá para fora em todo o seu esplendor.
Se até hoje eu já entitulava a minha família como sendo a popcorn family madness, aqui está a prova provada que não era exagero.
Com isto não pretendo ganhar nenhum tipo de compaixão, mas vá lá, dêem-me um desconto de vem em quando, boa?

Para quem a infância foi terna, pura e gentil e esta Sra. passou ao lado, aqui fica a música que me valeria mais umas boas horas na cadeira do psicólogo se eu decidisse tratar-me!

1 comentário:

  1. Só posso dizer q é aterrador como estas coisas q aparentemente já estão esquecidas, afinal saltam do fundo do baú com uma rapidez extraordinária, sim, porque saber Ana Faria de cor não acho negativo de todo, gostar de ABBA (ao contrário de muita gente) não me parece nada mal, mas Nana Mouskouri... é q ninguém merece!!!! É q já não me bastava a semana passada em plena viagem, eu estar num Posto de Abastecimento e lembrar-me daquelas tenebrosas viagens em q se parava no caminho para se comprar K7 daquelas mesmo muito boas (q pelos vistos ainda se vendem, claro está na versão CD). Espero nunca por nunca me lembrar daquilo q se ouvia no carro nas ditas viagens... Isso sim, seria o real degredo!!!

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